Artigo de Mark Jones
Se há alguma felicidade verdadeira fora de Deus neste universo, é uma felicidade derivada de Deus. Na verdade, de acordo com John Owen, “A natureza humana do próprio Cristo no céu não está fora de Deus; vive em Deus, e Deus nela, numa plena dependência de Deus, recebendo abençoadas e gloriosas expressões dele.” (Works, 1:325).
Mais, a felicidade – ou “auto-satisfação” – de Deus nunca deve ser considerada aparte da trindade de Deus. A sua auto-satisfação consiste não somente na perfeita união de todas as coisas boas nele, mas também no amor mútuo inefável das três pessoas. O vínculo do Espírito entre Pai e Filho traz ao nosso Deus triúno alegria infinita.
Os teólogos têm falado não apenas da auto-satisfação como a abundância em todas as coisas boas, mas também como ele estar livre de todas as misérias (1 João 1:5). Mas outros não pararam aí. Alguns defenderam vigorosamente que devemos afirmar que Deus conhece perfeitamente a sua felicidade. Ele não deseja nada mais do que tem porque é impossível ele ser mais ou menos abençoado do que é.
A auto-satisfação de Deus é a fonte da qual bebemos a verdadeira felicidade. Quando criou o mundo, ele fez todas as coisas boas e, por conseguinte, todas as coisas bem-aventuradas porque a sua satisfação é a abundância de todas as coisas boas. Adão era feliz porque era bom; Adão era bom porque era feliz. Adão era feliz porque Deus lhe permitiu conhecer o estado excelente em que havia sido criado. E Adão era feliz porque conhecia o amor de Deus (1 João 4:8).
O pecado trouxe a miséria. Mas Deus enviou o seu Filho para lidar com o pecado e miséria, para nos fazer como ele – abençoados, felizes, satisfeitos, realizados, alegres.
A felicidade de Cristo
Será que Cristo foi alegre todos os dias da sua vida? Terá sido o “homem de dores” um homem de alegria ao mesmo tempo?
Não temos nenhuma razão para suspeitar que Cristo não terá sido sempre alegre durante a sua vida na terra – ainda que, se alguém tivesse uma desculpa para se sentir miserável, essa pessoa teria sido Cristo.
Cristo teve de ser alegre por diversas razões.
- . O fruto do Espírito inclui a alegria (Gálatas 5:22).
- Ele era bom, livre do pecado; o justo não tinha razão para não amar a sua santidade pessoal, que recebeu em abundância do seu Pai. O pecado faz-nos miseráveis, mas Cristo não tinha pecado (Hebreus 4:15).
- Ele confiou no seu Pai e submeteu-se à vontade do Pai. Mais do que obediência, o Pai desejava uma obediência alegre por parte de Jesus. Por isso, Jesus foi ao lugar mais aterrador do mundo (a cruz) com o gozo que lhe estava proposto (Hebreus 12:2).
- Ele sabia que tudo o que estava a fazer na sua vida – isto é, toda a sua obediência, mesmo nas circunstâncias mais difíceis que viveu (como na sua tentação) – levá-lo-ia à sua glória e à salvação do seu povo. Como é que ele poderia deixar de se alegrar com isso, mesmo entre lágrimas?
- Ele afirmou ter gozo por causa dos propósitos de Deus. Em Lucas 10:21, Jesus “se alegrou no Espírito Santo” porque o Pai tinha revelado “às criancinhas” a salvação que vem através da sua vitória sobre o diabo (Lucas 10:18–20; Hebreus 2:14).
- Ele amou os seus amigos que o terão alegrado, nomeadamente João.
- Ele tinha um conhecimento peculiar dos atributos de Deus; ele compreendeu que Deus era a fonte da sua felicidade, o que significa que ele nunca precisou de se preocupar que houvesse falta de felicidade, quer para ele, quer, comunitariamente, para o seu povo.
Se houvesse um lugar onde desculparíamos Cristo por falta de alegria, esse lugar seria o Gólgota. Mas como Spurgeon escreve: “Uma grande tristeza estava sobre Cristo quando o nosso fardo foi colocado sobre ele; mas uma alegria maior passou pela sua mente quando ele pensou que recuperaríamos da nossa perdição… Mesmo [“Meu Deus, meu Deus, porque me desamparaste?”] quando as profundezes da sua angústia soaram, nas suas cavernas encontramos pérolas de alegria.”
Por causa da sua obra por nós, Cristo sabia que a alegria seria a nossa recompensa. Deus iria, através de Cristo e do Seu Espírito, oferecer-nos expressões novas e contínuas da plenitude do seu abençoado ser. Iremos beber dos “rios de prazer” e refrescar-nos “nas eternas fontes de vida, luz e alegria eternamente” (Owen, 1:553).
Mas esta é a glória da nossa redenção: tal alegria começa nesta vida, não somente na vida futura: “Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso” (1 Pedro 1:8)
Somos tão felizes quanto aquele a quem servimos
Uma vez que Deus é a fonte de toda a benção, não podemos ser verdadeiramente felizes nesta vida até que ele se torne o nosso Deus. Somos tão felizes, ou miseráveis, quanto aquele a quem – em última instância – servimos, porque nada pode oferecer maior felicidade do que aquele que é felicidade em si mesmo.
Deus é infinito em felicidade e, por isso, providencia alegria e satisfação primeiramente (e proeminentemente) ao Seu Filho – e, por virtude da nossa união com Cristo, e através da presença do Espírito Santo, ele dá-nos essa mesma alegria (João 16:24).
George Swinnock declara sabiamente, “Aqueles que servem a carne como o seu deus são miseráveis (Romanos 16:18; Filipenses 3:18) porque o seu deus é vil, fraco, enganoso e transitório (Salmo 49:20; 73:25–26; Isaías 31:3; Jeremias 17:9). Semelhantemente, aqueles que prezam o mundo como o seu deus são miseráveis porque o seu deus é vão, problemático, incerto e fugaz (Eclesiastes 1:2–3; 5:10; I Coríntios 7:29–31; I Timóteo 6:9–10). Mas os que têm um interesse neste grande Deus são felizes: “Bem-aventurado é o povo cujo Deus é o Senhor” (Salmos 144:15).”
Swinnock acrescenta que a alegria é o “maior e mais alto dom que o Deus infinito nos pode dar. Ele pode dar-nos coisas maiores do que riquezas, honras, amigos e relacionamentos… Ele pode dar-nos coisas maiores do que o perdão dos pecados e a paz de consciência. Mas ele não nos pode dar nada que seja maior do que ele mesmo.”
Cristo recebeu a sua felicidade da parte de Deus através do Espírito; logo, nós recebemos a nossa felicidade da parte de Deus através de Cristo pelo poder do Espírito. Esta é a única alegria que vale a pena ter, porque vem de uma fonte de bençãos inesgotável que transbordará para as nossas almas por toda a eternidade, de modo que a nossa alegria no céu só crescerá à medida que bebermos do nosso Deus e Salvador Bendito.
Ao carregares várias cruzes nesta vida, lembra-te de Jesus. Lembra-te da sua alegria e reinvindica-a como tua – porque nele e pelo Espírito, a sua alegria é verdadeiramente tua.
Por: Mark Jones. ©️ Desiring God Foundation. Traduzido com permissão. Fonte: Deus Convida-te para a Sua Felicidade. ©️ Rede Reformada Todos os direitos reservados. Tradução: Tiago Falcoeiras.